De pentecostal a reformado
- Edivilson Reis
- 23 de abr.
- 13 min de leitura

O que leva um pentecostal a procurar uma igreja reformada
Nos últimos anos, tem-se observado, ainda que de forma não massiva, um movimento considerável de irmãos oriundos de igrejas pentecostais migrando para comunidades de tradição reformada. Embora não se trate de um fenômeno em larga escala, seu impacto é perceptível. Denominações como a Igreja Presbiteriana do Brasil, por exemplo, têm recebido muitos irmãos oriundos do meio pentecostal.
Este também foi o meu caso — uma jornada de transição do pentecostalismo para a teologia reformada. Contudo, o propósito deste artigo não é relatar minha experiência pessoal de fé, mas apresentar, a partir da observação e reflexão, alguns fatores que, a meu ver, contribuem para que muitos, sobretudo os jovens, optem por deixar igrejas pentecostais.
Ressalto que nem todos os pontos abordados refletem diretamente minha própria vivência, mas emergem de situações observadas em outros contextos e relatos de irmãos que igualmente realizaram essa mudança. Além disso, minha análise não se limitará a uma denominação específica, mas buscará contemplar traços comuns ao ambiente pentecostal como um todo. Não levarei em consideração, neste artigo, o neopentecostalismo, pois, apesar de algumas aparentes semelhanças, considero que este representa um movimento doutrinária e liturgicamente distinto do pentecostalismo clássico. Também não considerarei a Congregação Cristã no Brasil. Sobre essa última pretendo escrever depois.
O movimento pentecostal possui inegáveis méritos e reconheço que tem desempenhado — e ainda desempenha — um papel significativo na evangelização em solo brasileiro. Se os dados estatísticos indicam um expressivo crescimento no número de evangélicos em nosso país, é certo que uma parcela substancial desse avanço se deve à atuação do pentecostalismo. Existem inúmeras comunidades sérias que apesar de distintas teologicamente dos reformados, podemos chamar de irmãos. Comunidades que zelam pela Palavra de Deus, pelo Discipulado e pela sã doutrina. Que contribuem para o avanço do Reino de Deus aqui na terra.
Eu mesmo tenho a honra de conhecer e poder conviver com irmãos pentecostais piedosos, cujas sandalhas não sou digno de desatar. Irmãos que têm mais tempo de ministério do que eu de vida. Irmãos que pregam o evangelho com ousadia, intrepidez e alegria e que discipulam almas arrebanhadas. Irmãos cuja pregação tenho prazer em ouvir, que edificam, confrontam, consolam, irmãos pentecostais que são pastores de almas, instrumentos de Deus na minha vida e na vida de muitos. Por isso não vou me ater ás minhas experiencias pessoas, porque pela Graça de Deus tive oportunidade de pertencer a uma comunidade pentecostal sadia, onde poucos disso que vou descrever pode ser evidenciado. No entanto, tive oportunidade de conhecer comunidades que estão apodrecendo, machucando seus membros e escandalizando a igreja de Cristo. Infelizmente são de tradição pentecostal. Por isso resolvi escrever esse post.
Outro aspecto digno de nota é o fervor espiritual frequentemente encontrado nesse meio, bem como a disposição notável para o serviço cristão. Em muitas comunidades pentecostais, é possível observar uma dedicação vibrante à vida da igreja, marcada por entusiasmo, oração constante e um senso de missão admirável.
Todavia, a forma como muitas dessas igrejas se estruturam — aliada, por vezes, à ausência de uma ênfase em aspectos essenciais para o amadurecimento da fé e da comunidade, como o discipulado por exemplo — acaba por comprometer a saúde e a coesão doutrinária de seus membros. Isso contribui para uma compreensão fragmentada de temas fundamentais, inclusive no tocante à própria teologia pentecostal, que muitas vezes se perde em meio a interpretações díspares e práticas desconectadas de um referencial teológico mais consistente.
Dessa forma, muitos passam a compartilhar essa percepção. Ao desejarem um maior aprofundamento teológico, deparam-se com a tradição reformada — com sua robustez doutrinária, coerência interna e profundidade bíblica — encontrando nela respostas mais sólidas e aplicáveis às demandas práticas da vida cristã e às inquietações surgidas ao longo da jornada de fé.
O desejo por uma profundidade teológica, um culto reverente, doutrinas e práticas coerentes, modelos de governança mais coesos e líderes mais preparados fazem com que muitos deixem o pentecostalismo e se unam a igrejas de tradição reformada.
Vejamos alguns desses pontos que conduziram um pentecostal a tradição reformada.
1. O desejo por profundidade teológica
Um dos principais fatores que motiva muitos jovens a migrarem do meio pentecostal para tradições reformadas é o anseio por uma fé mais fundamentada, consistente e intelectualmente robusta. No ambiente reformado, encontram uma teologia sistematizada, um ensino doutrinário mais aprofundado e uma teologia que busca tanto edificar a mente como consolar o coração, combater o pecado sabendo que ainda estamos no mundo e precisamos nos relacionar com ele. Ao iniciarem uma busca pela internet logo encontram sermões expositivos de Augustus Nicodemus, Hernandes dias Lopes ou Marcos Granconato, livros, publicações e artigos carregados com uma boa teologia, clareza e profundidade, logo se interessam em conhecer mais.
Enquanto o movimento pentecostal enfatiza a experiência com o Espírito e uma determinada prática da fé, muitos se sentem carentes de uma cosmovisão cristã coerente, que integre todas as áreas da vida sob o senhorio de Cristo. A redescoberta da soberania de Deus, da centralidade das Escrituras, da suficiência de Cristo e das doutrinas da Graça tem se tornado para esses jovens um verdadeiro bálsamo espiritual, alimentando suas almas cansadas de uma fé, por vezes, superficial e fragmentada.
É comum que, no meio pentecostal, a teologia reformada seja rotulada como fria e carente do poder do Espírito Santo, numa tentativa — consciente ou não — de desencorajar os membros a se aproximarem de sua doutrina e ensino. No entanto, à medida que se tem contato real com a teologia reformada, essa impressão logo se desfaz. A atuação do Espírito Santo na vida do crente não apenas ocupa o centro da experiência cristã, como também se revela profunda e abrangente. Ela não se limita a manifestações emocionais ou experiências místicas, mas se estende a todas as dimensões da vida: à prática cotidiana, à formação de uma cosmovisão bíblica, à maneira como interagimos com a cultura, à arte, ao pensamento, à razão — enfim, a todas as esferas da existência humana.
Embora em muitas comunidades pentecostais contemporâneas a rigidez quanto aos chamados “usos e costumes” tenha se abrandado, essa ainda é uma realidade presente em diversas igrejas. Muitos jovens, especialmente em contextos mais tradicionais, continuam sendo expostos a exigências de conduta e vestimenta que, por vezes, carecem de respaldo bíblico sólido e se apoiam mais em normas culturais herdadas do que em princípios doutrinários bem estabelecidos. Essa ênfase desproporcional em aspectos externos pode gerar inquietação, questionamentos e, eventualmente, afastamento, sobretudo entre aqueles que anseiam por uma fé mais centrada na Escritura e menos sujeita a formalismos não essenciais à vida cristã.
Não são poucas as vezes em que sou abordado por jovens com perguntas do tipo: “Pode ou não pode usar tal roupa?”, “É permitido fazer tatuagem?”, “Cristão pode ou não consumir bebida alcoólica?”, entre outras questões semelhantes. Compreendo que, em muitos casos, o jovem busca orientações práticas e objetivas para sua conduta. Contudo, percebo que, por trás dessas perguntas, frequentemente reside uma lacuna mais profunda: a ausência de compreensão de princípios elementares e fundamentais da vida cristã. Em vez de um simples código de conduta, o que falta é uma formação sólida que ofereça uma cosmovisão bíblica, capaz de nortear escolhas com discernimento e maturidade espiritual.
Por fim, cabe destacar, ainda neste primeiro ponto, a fragilidade de grande parte das pregações em muitos círculos pentecostais. Não raras vezes, o púlpito é ocupado por discursos centrados em experiências pessoais, visões subjetivas ou revelações particulares, relegando a Palavra de Deus a um papel secundário, quase decorativo. A exposição fiel das Escrituras — aquela que considera o contexto, a intenção do autor sagrado e a aplicação coerente — é, por vezes, substituída por narrativas motivacionais ou exortações desprovidas de fundamento bíblico sólido. Assim, a centralidade das Escrituras na edificação do povo de Deus cede espaço ao protagonismo da experiência humana, criando um ambiente onde o sentimento suplanta a verdade revelada. Essa ausência de alimento doutrinário consistente enfraquece a fé, empobrece a vida espiritual da comunidade e, inevitavelmente, leva muitos a buscar, com sede, uma teologia mais centrada na Escritura — como é o caso da tradição reformada.
2. O cansaço com os excessos e subjetivismos
Outro aspecto frequentemente mencionado por aqueles que deixam o pentecostalismo é o esgotamento diante de práticas exageradas e de uma espiritualidade excessivamente centrada nas emoções. Profecias desencontradas, revelações contraditórias e promessas infundadas de bênçãos materiais geram, com o tempo, desilusão e um senso de desgaste espiritual.
Muitos jovens, ao amadurecerem na fé, começam a questionar se a experiência cristã deve realmente depender da frequência com que "se sente a presença de Deus" ou do número de manifestações extraordinárias num culto. No contexto reformado, encontram uma espiritualidade mais sóbria, bíblica e centrada na suficiência das Escrituras, onde o ordinário — a pregação fiel, os sacramentos, a oração e a comunhão dos santos — é valorizado como o meio eficaz pelo qual Deus nutre e sustenta o seu povo.
Não são raras as ocasiões em que jovens me procuram, tomados por inquietações e confusões acerca de sua fé. Evidentemente, momentos de dúvida ou cansaço fazem parte da jornada cristã — todos, em algum grau, experimentam desertos espirituais. No entanto, o que percebo com frequência é que essas angústias decorrem, não de uma crise comum da alma piedosa, mas de uma compreensão deficiente das Sagradas Escrituras. Em muitos casos, esses jovens foram instruídos por líderes que, embora bem-intencionados, transmitiram ensinos cuja veracidade, ou mesmo coerência, não encontra respaldo nas Escrituras. O jovem, sedento por verdade e profundidade, depara-se com o vazio de discursos que, embora revestidos de autoridade, carecem de solidez bíblica.
É preciso reconhecer: todos estão sujeitos ao erro. Contudo, um dos grandes desafios presentes em diversas comunidades pentecostais é a carência de líderes devidamente formados na Palavra de Deus. Diante dessa lacuna, frequentemente recorre-se a experiências místicas ou manifestações extraordinárias como critério último de validação doutrinária. É nesse contexto que desejo introduzir um ponto que, pessoalmente, me causa grande preocupação: Os neófitos no meio pentecostal.
Infelizmente, em muitos casos, a vivência em contextos pentecostais marcados por excessos pode gerar consequências psicológicas que vão muito além das questões meramente religiosas ou doutrinárias. A exposição contínua a manifestações exageradas, frequentemente provenientes de figuras revestidas de autoridade espiritual, tende a impactar negativamente a saúde emocional e mental dos irmãos. Não são poucos os relatos de instabilidade emocional causada por sonhos, revelações ou profecias interpretadas de forma arbitrária — elementos que, ao invés de edificar, geram medo, confusão e dependência. Em situações mais graves, tais ambientes propiciam abusos de autoridade das mais diversas naturezas, mascarados sob o verniz da espiritualidade, comprometendo profundamente a confiança, a autonomia e o desenvolvimento saudável da fé cristã.
3. A questão do neófito e o discipulado
Outro ponto que merece atenção — e que pode, sem reservas, ser classificado como um problema — diz respeito à precipitação em conceder responsabilidades eclesiásticas a neófitos. A própria Escritura adverte, de maneira clara, contra a ordenação ou o estabelecimento de recém-convertidos em funções de liderança ou ensino, alertando para o perigo de que, sem a devida maturidade espiritual, tais indivíduos se tornem orgulhosos e venham a cair sob juízo (1Tm 3.6).
Todavia, não é incomum, no contexto de muitas igrejas pentecostais, que novos convertidos sejam rapidamente alçados a cargos de destaque, frequentemente sem uma criteriosa avaliação quanto à sua formação doutrinária, estabilidade emocional ou experiência cristã e piedade. Essa prática, ainda que muitas vezes motivada por entusiasmo, revela certa fragilidade na compreensão bíblica sobre os critérios de liderança eclesiástica e pode comprometer o amadurecimento saudável da igreja local.
A introdução precipitada de neófitos em cargos não acarreta riscos apenas para a saúde da comunidade eclesiástica, mas também compromete profundamente o desenvolvimento espiritual do próprio indivíduo. Sem um acompanhamento discipulador consistente, o neófito não é devidamente instruído nos fundamentos da fé, tornando-se vulnerável ao erro doutrinário, à sedução de modismos espirituais e, em casos mais graves, à apostasia. A ausência de raízes sólidas o impede de perseverar na fé quando confrontado com os dilemas, dores e provações da vida cristã.
Infelizmente, o que se percebe em muitos contextos é uma corrida imprudente por números: comunidades que se apressam em convencer pessoas ao batismo, organizando cerimônias festivas com grandes multidões, celebrando a quantidade de "almas que desceram às águas". No entanto, tão logo esses novos convertidos são batizados, deixam de receber acompanhamento pastoral, sendo muitas vezes rapidamente inseridos em funções de liderança ou em posições de destaque, sem o devido preparo.
Lembro-me de ouvir certa vez um irmão pentecostal fazer uma crítica contundente, porém reveladora, ao afirmar: “Muitos púlpitos pentecostais servem para produzir descrentes e desviados.” Ainda que tal afirmação soe dura, ela denuncia uma realidade que não pode ser ignorada: a negligência no discipulado leva inevitavelmente à fragilidade espiritual, à incapacidade de lidar com o pecado, à confusão diante das questões práticas da vida, e à dificuldade de enxergar como a fé sustenta o crente em meio à dor e ao sofrimento. O desfecho, em muitos casos, é o abandono da fé.
4. A busca por uma liturgia reverente, centrada em Deus e na obra de Cristo.
Outro fator que chama a atenção na tradição reformada é a seriedade com que o culto público é tratado. A liturgia é moldada por princípios bíblicos, com foco na glória de Deus e não no entretenimento humano. A centralidade da Palavra, o canto congregacional de salmos e hinos doutrinários, o silêncio reverente, a oração intercessora — tudo contribui para formar um ambiente onde o culto é, de fato, culto: serviço prestado a Deus, e não uma experiência voltada primordialmente à satisfação pessoal.
Para muitos jovens oriundos do pentecostalismo, acostumados a uma liturgia mais espontânea e informal, essa transição pode, num primeiro momento, parecer fria ou excessivamente tradicional. Contudo, à medida que compreendem os fundamentos bíblicos da adoração reformada, passam a perceber nela uma beleza espiritual mais profunda, uma ordem que transmite paz e reverência.
Em muitas igrejas pentecostais, nota-se a ausência de uma liturgia bem definida e coesa que conduza o povo de Deus a uma adoração verdadeiramente comunitária. Com frequência, os cultos são acontecem em torno daquilo que cada indivíduo pode oferecer a Deus, de modo subjetivo e pessoal, e não na adoração coletiva e reverente que a Igreja, como corpo de Cristo, deve prestar ao Senhor. Muitas vezes o neófito está conduzindo o culto, outros neófitos recebem alguma oportunidade para alguma apresentação, não entendendo eles a finalidade do culto a Deus.
Recordo-me da admoestação do apóstolo Paulo à igreja em Corinto, no contexto da Ceia do Senhor, quando os crentes falhavam em discernir que eram membros uns dos outros (1Co 11.29). Ainda que o problema ali estivesse ligado especificamente à Ceia, há algo semelhante que pode ser observado em certos cultos pentecostais: a adoração se dá de forma fragmentada, centrada na experiência individual, em detrimento da consciência e da participação comunitária no culto ao Deus Trino. O dirigente da liturgia deve conduzir a comunidade a adoração comunitária e não cada um apresentar-se para a comunidade ou para Deus.
Contudo, o padrão bíblico de culto é essencialmente congregacional, ordenado e reverente. A adoração é um ato da Igreja, não apenas do indivíduo. Quando essa dimensão eclesial do culto é negligenciada, muitos crentes, especialmente aqueles que buscam maior profundidade teológica e litúrgica, acabam por sentir-se deslocados e, eventualmente, deixam essas comunidades em busca de uma espiritualidade mais sólida e coerente com as Escrituras.
5. A questão das línguas
Esse ponto talvez não seja o fator mais determinante na decisão de alguém deixar o pentecostalismo, mas sem dúvida merece atenção, por representar uma das marcas mais distintivas do movimento. A chamada "evidência inicial" do batismo com o Espírito Santo — conforme registrado, por exemplo, na Declaração de Fé das Assembleias de Deus — é, justamente, o falar em línguas estranhas.
Essa associação direta entre o batismo com o Espírito e a glossolalia, contudo, não encontra respaldo claro e normativo nas Escrituras. Ainda que o livro de Atos registre episódios em que crentes falaram em línguas ao receberem o Espírito, o texto bíblico não apresenta esse fenômeno como uma evidência universal, tampouco como um padrão prescritivo para a vida cristã. Ali vemos claramente que as línguas eram idiomas humanos, pois havia quem as entendesse. O apóstolo Paulo, ao tratar das manifestações espirituais na igreja de Corinto, adverte que nem todos falam em línguas, e que os dons são distribuídos soberanamente pelo Espírito, segundo a Sua vontade (1Co 12.11, 30).
A tradição reformada, a partir de uma hermenêutica mais historicista e confessional, entende que os dons extraordinários do Espírito, como línguas, profecias e curas, pertencem a uma etapa específica da revelação — o período apostólico — cuja finalidade era autenticar a mensagem do evangelho e estabelecer os fundamentos da Igreja. Assim, esses sinais cessaram com a conclusão do cânon bíblico e a morte dos apóstolos, conforme afirmam teólogos como B. B. Warfield, John Owen e Martyn Lloyd-Jones dentre outros.
Além disso, há uma preocupação pastoral legítima: em muitos contextos pentecostais, a ênfase desmedida na experiência de línguas pode gerar uma divisão espiritual velada entre os que "falam" e os que "não falam", levando à falsa impressão de que alguns são mais espirituais do que outros — o que contradiz a doutrina bíblica da unidade e igualdade do Corpo de Cristo.
Por fim, a ausência de interpretação das línguas nos cultos, a desordem litúrgica e o estímulo a uma experiência subjetiva e ininteligível são contrários ao princípio Paulino de que o culto deve ser feito com ordem e decência (1Co 14.26-40), e que toda edificação precisa se dar pelo entendimento.
Por essas razões, muitos que se aproximam da teologia reformada acabam adotando uma compreensão mais bíblica e histórica sobre os dons espirituais, reconhecendo a suficiência das Escrituras e a centralidade de Cristo como o ápice da revelação de Deus ao seu povo.
O que concluo a partir desses pontos:
O movimento de transição de muitos irmãos do meio pentecostal para comunidades reformadas não deve ser lido com hostilidade ou triunfalismo, mas com discernimento e compaixão. Ele sinaliza não apenas uma mudança de ambiente eclesiástico, mas uma busca sincera por profundidade, clareza doutrinária e uma espiritualidade firme, alicerçada nas Escrituras e explanada pela herança confessional das Igreja reformadas.
Não se trata de desqualificar o legado pentecostal, tampouco de negar os frutos que, pela graça de Deus, foram e ainda são colhidos em muitos desses arraiais. Trata-se, antes, de reconhecer que onde há sede por verdade, o Espírito Santo conduz ao alimento sólido da Palavra; onde há anseio por reverência, Ele conduz ao culto centrado em Cristo; onde há confusão, Ele ilumina com ordem, entendimento e paz.
A teologia reformada, com sua ênfase na soberania divina, na suficiência das Escrituras, na centralidade de Cristo e sua obra e na glória de Deus como fim último de todas as coisas, tem oferecido abrigo seguro para muitos cansados da superficialidade, da fragmentação doutrinária e da experiência desprovida de fundamento bíblico.
Que este movimento — longe de ser visto como uma ruptura sem reconciliação — possa inspirar um diálogo mais profundo entre os irmãos, e, acima de tudo, contribuir para a edificação do Corpo de Cristo, “até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4.13).
É importante que você pense bem antes de deixar sua comunidade. Será que o que você está pensando reflete realmente a realidade?
Você está realmente buscando uma profundidade que sua igreja não pode oferecer?
Não seria vaidade?
Você não está sendo discipulado?
Deus o abençoe!
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